[foto do Flickr de Dazzie D]
Não é difícil imaginar, mesmo para os diletantes, o quanto são restringidas as possibilidades de desenvolvimento de diversos tipos de arte (especialmente do cinema) quando a motivação dos produtores é predominantemente comercial. Não é preciso ser escritor para perceber o quanto a literatura padece com a motivação comercial - ‘É difícil para os escritores não medir o próprio mérito pelos direitos autorais, e quando os livros de má qualidade podem trazer boas compensações pecuniárias é necessário muita firmeza de caráter para produzir bons livros e continuar pobre’, escreveu Bertrand Russel em 1935. É evidente que tal situação não se aplica somente aos escritores, e que direitos autorais, no caso, implicam não só em reconhecimento [que é necessário], mas em dividendos cujas proporções, normalmente, são estabelecidas pelas empresas intermediárias entre autor e público.
Embora a internet, ainda que de forma experimental e caótica, elimine a necessidade de tal intermediário [visto que qualquer um pode publicar sua obra diretamente], é claro que critérios devem ser considerados - afinal, artista não é quem apenas publica algo, mas quem produz arte e a publica [pessoalmente, penso que publicar um livro deve ser, sim, possível, mas também um tanto de dificuldade não faria mal – pois exigiria alguma determinação e vontade do autor para publicar a sua obra, demonstrando que acredita nela, confiando que tem algo de valor a expressar]. Contudo, sei o quanto a dinâmica anárquica da internet é fundamental para a difusão da cultura e do conhecimento, indo de encontro a 'ditadura do intelectual' e ao elitismo reivindicado, porém não praticado de alguns espíritos draconianos – e não é a toa que a rede [que cresce a cada dia em volume de conteúdo - qualquer conteúdo - e participação de pessoas] incomode tanto as indústrias que fizeram fortuna e poder com a arte e a cultura, especialmente as fonográfica e cinematográfica – os setores mais afetados pela pirataria. Aliás, com o surgimento de tecnologias como P2P, os prejuízos dessas indústrias foram tão gritantes e deseperadoras que ensejaram um fenômeno interessante: as empresas agridem seus próprios clientes acusando-os de bandidos – e não é raro ver artistas agredindo seu próprio público a mando dos donos das empresas as quais se rendem, comparando o ato de baixar um vídeo ou uma música na internet a um roubo de carro ou coisa que o valha. A questão dos direitos autorais, claro, deve ser amplamente discutida – afinal o artista precisa sobreviver e ser reconhecido e até recompensado – mas não apenas sob a ótica da indústria, afinal, os tempos mudam....
Em suma, pelo menos para os artistas, é hora de resgatar a arte como arte, e esperar dela resultados como tal. É preciso ter claro que mesmo que toda a indústria em torno da cultura e da arte ruam e desabem, a arte permanece, desde que permaneçam as pessoas e, claro, os artistas. A arte não precisa da indústria, seja esta da esfera pública ou privada. Precisa, sim, de públicos – e começam a surgir outras formas de alcançá-los que prescindem da sujeição do artista aos donos da indústria. Novos modelos de negócios surgem e novas formas de propriedade intelectual mais flexíveis - como a licença Creative Commons - que estimulam a livre troca de idéias e a livre e dinêmica circulação de obras autorais. Já é um começo. Cabe aos artistas revisarem seus objetivos quando necessário, e ousarem descobrir e experimentar - e arriscar - novas possibilidades de difusão de seus trabalhos.
Por Fabricio Kc
P.S. A internet faz surgir novos modelos de negócios também no âmbito artístico-cultural como BEM exemplificou a banda inglesa Radiohead, que disponibilizou em seu site o album Rainbow para download, deixando a critério dos fãs definir quanto pagaraiam por ele - e obteve bons resultados.
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