segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Confira a venda online dos livros do escritor José Augusto Sampaio

Já estão à venda os livros de estreia do escritor José Augusto Sampaio. Imagine alguém te olhando do escuro e O outro lado do olho, são os títulos dos livros de contos e poemas respectivamente.

Acesse os links abaixo e veja os livros do escritor José Augusto Sampaio à venda online.

http://www.agbook.com.br/book/25726--Imagine_alguem_te_olhando_do_escuro

http://www.agbook.com.br/book/19323--O_outro_lado_do_olho


Leia agora um conto e três poemas que estão nos livros:

Elis ama

Elis desligou a luz e abriu a gaveta do armário da cozinha. Segurou o martelo de chumbo, que amassa a carne para ser assada, e suspirou durante cinco segundos, até largá-lo. Depois puxou de vez a faca nova de cortar carne, que ela havia comprado na semana passada, pois a antiga ela jogou fora.
No quarto, rapidamente, botou a faca debaixo da cama e se deitou, esperando seu marido Mário, que estava terminando o banho.
_Você vai dormir nu? – pergunta Elis.
_Sim, meu amor.
_É, meu bem, é bom mesmo, está muito quente.
Mário deita-se na cama, faz alguns carinhos em sua esposa e se vira para dormir.
Rapidamente ele vai dormir, como sempre. Pensa Elis, aguardando ansiosa que Mário durma.
Depois de trinta minutos Mário começa a dar sinais de sono quase profundo. Elis, com o olhar estático, respira fundo. Devagar, pega a faca escondida debaixo da cama, bem devagar, levanta a faca e, já com os punhos fechados com força no cabo da faca, ela...
Mário levanta-se de vez e vai ao banheiro.
_O que houve, amor?
_Vou mijar – Mário, sonolento, responde.
Na volta do banheiro, no quarto, Mário abre a gaveta do armário, veste um pijama bem antigo e que Elis adora, ele volta pra cama, deita-se e rapidamente dorme.
Ele sabe que eu adoro esse pijama, nele fica lindo. Ela pensa, e começa a olhar o seu marido. Pela sexta vez desiste de matá-lo. Ela esconde novamente a faca debaixo da cama, encosta um pouco em Mário e dorme.

Três horas depois, Mário levanta-se, vai ao banheiro e volta com a antiga faca de cortar carnes, que ele falou para Elis jogar fora e comprar uma nova. Mário deita-se bem devagar ao lado de Elis, com a intenção de não acordar a esposa, e, com os punhos bem apertados, segurando no cabo da faca, enfia com força e sem pudor nas costas de Elis a ponta enferrujada da faca antiga.


Amor à primeira vista

Na passarela transversal e vertical
entre o céu e as avenidas
venho transeunte
vermelho transcendente.
E lá ela vem.
Deusa.
Vestida de vestido eminente.
Pedaço de beleza.

O vento passa
o amor sorri e assa
ela timidamente segura sua saia.

Eu digo:
__Você é linda segurando sua saia assim.
__Oxe, menino, sai pra lá, deixe de mim.
__É verdade, de coração. Você fica bela, é paixão!
__Você é louco?
__Não. Foi você que despertou toda minha loucura e vontade de amar com sinceridade.
__Cê é maluco, é? Polícia, polícia...sai, maluco, sai! Vai mexer com outra.

Feita a confusão.
Tudo por causa do amor à primeira vista
de impulso que não conquista.
É ordem calar o coração.


Vida rotineira

Assistindo ao Jornal Nacional e imaginando como o Bonner fode a Fátima.
Vendo minha esposa comer a fome num apetitoso e cheiroso cachorro quente
Enquanto entanto estando sentado de regime como lástima.

A novela começa:
Baby para lá
Bode para cá
E Dinheiro que é bom não cai do céu.

Enquanto alguns podem
Eu nem mel.


Ode aos privilegiados.

Tenho cabelo grande maluco beleza.
Sou ácido hippie, tenha certeza.
Poeta beatnik, valeu, firmeza?

Sou comunista, altruísta, nacionalista, capitalista, extremista.
Levanto a bandeira socialista, não sou qualquer porta bandeira de praxe.
Tenho lido Nietzsche, tenho lido Marx.
Seguro a marcha da revolução em ordem evolutiva.
Degenero tudo ao meu favor, sou progressista.
Conduzo-me na força de meu coração, sou ditador.
Dito, afirmo e dito.
Não ligo pra ninguém e sua dor.
Vou atrás dos revolucionários e mentores
motores da nova geração e modernadores.

Carrego livro grosso.
Tenho gosto que dá gosto.
Usufruo de cabelo grande
como já foi dito antes.
E sigo e vou e fico.
Êhhh caba indeciso voando altivo.

Meu martírio é segurar as bandeiras e ser primeiro.
Sou o último a morrer na guerra.
Fico sempre no lado de quem eleva a nova era.

Na minha camisa está escrito: pra que dinheiro?
Também sou seguidor de Cristo e da paz
sou bonzinho, um exemplo de rapaz
sou bizantino
conheço Firmino
e não digo o que este tal Firmino tem a ver com a minha sina.
E não me livro do progresso enlouquecedor da rima.
E do progresso enlouquecedor da rima não me livro.

Já vivi a idade do tempo e ainda vivo
não sei quantos e quantas já se proclamaram Cristo.
Hoje sou intelectual.
Defendo a guarda nacional.
Me candidatei e, se for eleito, farei.
Converso pra boi dormir.
No sul sou José, no Piauí
sou Zezim.

Sou revolucionário burguês
e sinto lhe dizer pra que vim
vou te fazer meu freguês.
Ando de Mercedes-benz
Wolksvagem e de General Motors.
Amém, meus bens.
Eu também oro.
Sou devoto e tenho um santo propósito.

Sou maluco certeza
mas tenho dinheiro
estou de beleza.
Sou íntegro e vou ao que quero certeiro.
Penteio o cabelo de lado.
Uso colarinho branco.
Assalto banco.
Aprendi a ser malandro safado.
Depois do trabalho, tiro a gravata e como bem na delicatessen
não, não há nenhum mal em comer bem na delicatessen
o mal está em quem olha pela vitrine e sonha, sonha, sonha, só sonha. Até virar cinza e pó.
Eu não paro de sonhar
cheiro pó
quero abalar.
Que cristo não me ouça
a minha boca se morda
e meu nariz exploda.

Meu cérebro está acelerado, agoniado.
Estou numa rotina pra descarado.
Quero comprar meu carro.
Não mereço isso
nasci pra ser aquilo.
Sou aniquilado aniquilador.
Sou poetador arretado.
Sou artista, um amante da boemia
com ou sem hipocrisia.
Tenho a bossa nova no meu iPod.
Sem depender de nenhuma opinião
faço tudo por mim, o que devo e o que pode.
Garanto, sempre ganho a razão.
Sou no outro mais um desgraçado
uma belo descarado.

Vou moderno e cultuando o mundo privilegiado de mim.
Vou moderninho cominando o mundo feito para mim.
Sou elite, vanguarda.
Sou conservador e dono das palavras.
Sou moderno, moderninho, contemporâneo
ouço Los Hermanos.
Sou discípulo de Caetano e curto trance.
Me visto todo louco, uso couro de serpente.
Estou oco
mas tenho um Ray-Ban maroto
marotinho vou e sou escroto.
Curto um broto.
Pago pra puta.
No motel, como uva.
E não pago pau pra ninguém.
Até porque me escondo.
Tenho medo e me escondo.
Pago pra ficar tudo zen.
Quer saber? Não te conto
e nesse rumo vou sem
ninguém.


Boa leitura, até breve.